Educação do Campo: Um olhar panorâmico


Glenda L. de Barros



Por educação do campo concebe-se toda ação educativa que incorpora espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher a si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos, pantaneiros e extrativistas e fundamenta-se nas práticas sociais constitutivas dessas populações e seus conhecimentos, habilidades, sentimentos, valores, modo de ser e produzir, de se relacionar com a terra e formas de compartilhar a vida (ROCHA et. al.).


A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social de vida coletiva no país (BRASIL,2002)

Concordando com Rocha et. al. em seu trabalho intitulado Educação no campo: um olhar panorâmico, a escola precisa investir em uma interpretação da realidade que possibilite a construção de conhecimentos potencializadores, de modelos de agricultura, de novas matrizes tecnológicas, da produção econômica e de relações de trabalho e da vida a partir de estratégias solidárias, que garantam a melhoria da qualidade de vida dos que vivem e sobrevivem no e do campo.

Diante da debilidade do capital sociocultural da população do campo, decorrente do desamparo histórico a que vem sendo submetida, e que se reflete nos altos índices de analfabetismo, a oferta de um ensino de qualidade se transforma numa das ações prioritárias para o resgate social dessa população. A educação, isoladamente, pode não resolver os problemas do campo e da sociedade, mas é um dos caminhos para a promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável (INEP/MEC,2007).

Nessa ótica, a transformação da educação do campo requer mais do que a melhoria física das escolas ou a qualificação dos professores; ela implica, necessariamente, um currículo escolar baseado na vida e valores de sua população, a fim de que o aprendizado também possa ser um instrumento para o desenvolvimento do meio rural.

Neste sentido, o grande desafio é construir uma matriz pedagógica, que não se feche numa dimensão de especialidades dentro das series ou disciplinas, o currículo precisa dar conta de especificidades, mas não perder com isso a visão ampla, não pensar apenas o específico, fragmentando o conhecimento. Superar as caixinhas das disciplinas é um desafio urgente a ser repensado, e construir alternativas educativas e de organização curricular que contemplem a transdisciplinaridade, a troca de saberes, somando-se elementos gerais e específicos na construção do conhecimento (ROCHA et. al.).

No que se refere ao ensino a LDB, no Artigo 28, promove um espaço para outra forma do ensino no campo, em que se considere a adaptação e adequação necessária e as peculiaridades da dinâmica do campo, tanto no aspecto organizacional, como também de propostas metodológicas e curriculares. Como podemos ver a seguir:

Art. 28 – Na oferta da Educação Básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
II – organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e as condições climáticas;
III – adequação a natureza do trabalho na zona rural.


Ao ler e estudar Leite (2002) no livro Escola Rural: urbanização e políticas educacionais e o INEP (2007) na publicação Panorama da educação no campo, a educação no campo enfrenta diversos problemas dentre os quais se pode destacar:
- O elevado índice de analfabetismo, sobretudo nas faixas etárias acima de 25 anos, o que evidencia a fragilidade educacional em que se encontra a população rural. Os índices de analfabetismo do Brasil, que são elevados, é ainda mais preocupante na zona rural. Segundo dados de PNAD (2004), citados no INEP (2007), 29,8% da população adulta da zona rural é analfabeta, enquanto que na urbana essa taxa é de 8,7%. A escolaridade média da população de 15 anos ou mais que vive na zona rural é quase 4 anos, o que corresponde a quase metade da estimada para a população urbana, que corresponde a 7,3 anos;
- A baixa remuneração e qualificação dos professores, com predominância de professoras leigas responsáveis por classes, na sua maioria, multisseriadas; de acordo com o Censo Escolar 2005, citado no INEP (2007) 59% das escolas são formadas por turmas multiseriadas ou unidocentes. O problema relatado das turmas multiseriadas está na ausência de uma capacitação especifica dos professores envolvidos, na falta de material pedagógico adequado e na ausência de uma infra-estrutura básica que favoreça a atividade docente e garanta a efetividade do processo de ensino aprendizagem. Os professores das escolas multiseriadas, além da atividade docente ainda fazem atividades voltadas para a manutenção da escola, como limpeza e preparo da merenda escolar, enfrentam ainda problemas quanto a alto rotatividade e dificuldade de acesso à escolas, em função das condições das estradas e da falta de custo da locomoção;
- O elevado índice de exclusão e repetência;
- O fraco desempenho na educação básica, que contribui para a persistência de altas taxas de abandono e evasão. Alguns especialistas argumentam que o desempenho escolar é o resultado da combinação de dois fatores: o capital sociocultural que os alunos nos trazem e a qualidade da oferta de ensino. O INEP (2007) analisa isso a partir da taxa de distorção idade-série, que mostra o nível do desempenho escolar e a capacidade do sistema educacional de manter a freqüência do aluno em sala de aula. O problema se mostra desde a séries iniciais do ensino fundamental que apresenta uma elevada distorção idade-série, com cerca de 41,4% dos seus alunos com idade superior à adequada, no ensino médio essa distorção é ainda maior, chegando a valores de 59,1% dos alunos da área rural, segundo Censo Escolar (2005) citado por INEP (2007);
- As escolas rurais apresentam características físicas e dispõe de infra-estrutura bastante distinta daquelas observadas nas escolas urbanas. Em termos dos recuros disponíveis, a situação das escolas da área rural ainda é bem precária. A exemplo, é quase inexistente o número de escolas rurais que possuem computadores, biblioteca, laboratórios e quadra de esportes;
- A oferta de transporte escolar atua no sentido inverso aos anseios dos movimentos sociais e de uma série de políticas governamentais que buscam fixar a família no campo, levando os filhos destas famílias para núcleos urbanos. O mais grave deste processo é que os alunos da zona rural ao estudarem em escolas urbanas passam por preconceito o que muitas vezes os levam ao abandono escolar,
- O crescente processo de municipalização da rede de ensino fundamental, que responde pela quase totalidade das matrículas nas séries iniciais das escolas rurais, sem que sejam viabilizadas as condições estruturais e pedagógicas.


Conclusões

A Escola rural merece maior atenção por parte da sociedade e dos políticos, por possuir especificidades no que se refere a sua dinâmica.

Ela possui leis próprias na conjugação do trabalho e da produção, além da existência de valores culturais e competências de seus membros sociais.

A escola do campo deve apresentar um currículo contextualizado à realidade do espaço em que está inserida, afim de motivas os alunos e assim evitar a evasão escolar na zona rural.

Há a necessidade do estabelecimento de uma política que valorize os profissionais da educação no campo. É oportuno destacar a necessidade de ações efetivas focadas na expansão do quadro, na formação profissional adequada e na formação continuada, considerando projetos pedagógicos específicos e uma melhoria salarial que estimule a permanência dos profissionais qualificados em sala de aula na escolas do campo.

Também não se deve desconsiderar a questão ambiente de estudo, infra-estrutura, profissionais a disposição desta modalidade, material didáticos, recursos financeiros entre outros, que devem juntamente com a proposta político-pedagogica e o currículo adequado construir uma escola do campo ideal, capaz de superar os vergonhosos índices apresentados em trabalhos e pesquisas.



BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes operacionais para educação básica nas escolas do campo, Resolução CNE/CEB, n.1, 3 de abril de 2002. Diário Oficial, Brasília, 9 de abril de 2002, seção 1, p.32.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.


INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Panorama da educação no campo. Brasília: INEP,2007. 44p.

LEITE, S. C. Escola Rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 2002 – 2ª ed.
ROCHA, E.N.;PASSOS, J.C. dos; CARVALHO, R.A. de. Educação no Campo: um olhar panorâmico. Disponível em < http://www.forumeja.org.br/ec/files/Texto%20Base%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20do%20Campo.pdf> Acesso em 02/03/2010





Um comentário:

Anônimo disse...

O primordial de tudo é saber que belas iniciativas fazem com que o mundo se torne mais agradavel para as pessoas que acabam necessitando de maior amparo das entidades publicas. Parabens pela iniciativa!

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